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Pensando os blogs
Há não muito tempo, falava-se em imprensa escrita,
falada e televisada quando se desejava abarcar todas as
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possibilidades da comunicação jornalística. Os jornais e as
revistas, o rádio e a televisão constituíam o pleno espaço
público das informações. Tinham em comum o que se po-
de chamar de “autoria institucional”: dizia-se, por exemplo, que
tal notícia “deu no Diário Popular”, ou “foi ouvida na rádio
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Cacique”, ou “passou no telejornal da TV Excelsior”. Funciona-
va como prova de veracidade do fato.
Hoje a autoria institucional enfrenta séria concorrência
dos autores anônimos, ou semi-anônimos, que se valem dos
recursos da internet, entre eles os incontáveis blogs. Conside-
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rados uma espécie de cadernos pessoais abertos, os blogs
possibilitam intervenção imediata do público e exploram em seu
espaço virtual as mais distintas formas de linguagem: textos,
desenhos, gravuras, fotos, músicas, vídeos, ilustrações, repor-
tagens, entrevistas, arquivos importados etc. etc. A novida-
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de maior dos blogs está nessa imediata conexão que podem
realizar entre o que seria essencialmente privado e o que seria
essencialmente público. Até mesmo alguns velhos jornalis-
tas mantêm com regularidade esses espaços abertos da
internet, sem prejuízo para suas colunas nos jornais tradicio-
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nais. A diferença é que, em seus blogs, eles se permitem
depoimentos subjetivos e apreciações pessoais que não teriam
lugar numa Folha de S. Paulo ou num O Globo, por exemplo.
São capazes de narrar a cerimônia de posse do presidente da
República incluindo os apartes e as impressões dos filhos
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pequenos que também acompanhavam e comentavam o
evento.
Qualquer cidadão pode resolver sair da casca e dizer ao
mundo o que pensa da seleção brasileira, ou da mulher que o
abandonou, ou da falta de oportunidades no seu ramo de ne-
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gócio. Artistas plásticos trocam figurinhas em seus blogs diante
de um largo público de espectadores, escritores adiantam um
capítulo do próximo romance, um músico resolve divulgar sua
nova canção já acompanhada de cifras para acompanhamen-
to no violão. É só abrir um espaço na internet.
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Outro dia, num blog de algum sucesso, o autor gabava-
se de promover democraticamente, entre os incontáveis segui-
dores seus, uma discussão sobre as mesmas questões que
preocupavam a roda fechada e cerimoniosa dos filósofos com-
panheiros de Platão. Isso sim, argumentava ele, é que é um
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diálogo verdadeiro. Tal atrevimento supõe que quantidade im-
plicaria qualidade, e que democracia é uma soma infinita das
impressões e opiniões de todo mundo...
Não importa a extensão das descobertas tecnológicas,
sempre será imprescindível a atuação do nosso espírito críti-
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co diante de cada fato novo que se imponha à nossa atenção.
(Belarmino Braga, inédito)